“... Um bom relatório arqueológico não só nos informa sobre os estratos de origem dos achados, mas também dá conta dos estratos que primeiro tiveram que ser quebrados.” (Benjamin, 2005).Trabalho com materiais analógicos impressos. Como parte da minha prática artística, eu arranco, corto, rasgo, dobro e colo imagens da performance masculina e do corpo masculino para desmascarar e revelar sua fragilidade. Durante o processo de fabricação, o que geralmente é deixado para trás é uma confusão de lixo não representativo — principalmente texto, planos de fundo e dispositivos usados em uma página de uma revista ou livro. Durante o primeiro bloqueio da COVID na Nova Zelândia, em 2020, tive acesso limitado a um novo material de colagem, além de alguns livros deixados no carro. Como resultado, minha atenção se voltou para as sobras que acabariam na lixeira. Estes pedaços descartados ilustram uma linguagem de gênero, porque o material que uso se destina ao público masculino. Abrangiam músculos, tamanho, competição, violência e tudo o mais que você pudesse esperar da ficção, propaganda e páginas reveladoras que promovem a chamada “masculinidade”, como anuários de filmes, revistas de fisioculturismo, esportes e revistas impressas para adultos, entre outros. Alguns desses livros foram doados, muitos recuperados de lojas de oportunidade e reciclados à medida que eram retirados de bibliotecas pessoais, públicas e universitárias. Quase todas as capas de livros usadas no projeto tiveram suas próprias histórias impressas em ambos os lados. Essas “marcas” revelaram suas origens, contaram suas vidas e retransmitiram a tensão que tiveram de suportar de incontáveis leitores e, claro, de mim! Ao incorporar palavras impressas de um discurso visual, estas novas colagens exigem uma reconsideração do texto e do significado — elas sugerem, mas, ao mesmo tempo, complicam o processo de decodificação textual. Originário do refugo de uma cultura impressa, essas obras tentam reconstruir a cultura material e visual — uma cultura consumida pela busca de atenção e poder. Elas se concentram em sua própria materialidade e, ao mesmo tempo, tentam romper a ordem e revelar seu significado embutido. Reconfiguram o significado para recontar e se reapresentar. Ressuscitadas, essas obras, reunidas, anseiam por voltar às estantes das bibliotecas e reentrar na circulação em um novo formato. Livros com capa dura é um projeto em andamento que reúne 90 colagens analógicas únicas feitas à mão em capas de livro de capa dura e as compila em 300 livros de edição limitada de concertina. O formato desdobrável da publicação revelará não apenas a frente das obras, mas também o verso (laterais).